Nos últimos dias, tem sido inevitável a minha convivência com um fantasma roedor em minha casa. Não, eu não o vi. Só ouvi falar. Minha irmã afirma ter visto o rato às duas da manhã na sala, debaixo da poltrona vermelha. Essa é a única vez que tivemos provas visuais da existência de simpático bichinho.
Conviver com a possibilidade de um exemplar de roedor no mesmo teto que o seu, pode-se dizer que é o inferno. Ter nojo de todas as comidas e de todas as partes da casa. Pensar que você pisa no mesmo carpete em que ele depositou suas amáveis patinhas. Imaginar que ele esteve deitado na sua cama. Não é possivel, prefiro acreditar que minha cama ele teve o mínimo de simpatia o suficiente para respeitar meu repouso.
Ontem, infelizmente um dos milhares de saquinhos de veneno para rato com macadâmia que estão estrategicamente espalhados pela casa, foi encontrado com um furo. Diz-se que depois de 48 horas de agonia e hemorragia, meu hóspede camundongo irá morrer. Esperarei mais 24 horas. Mas realmente não queria vê-lo morto. Não é que ele tenha feito algo contra mim, mas a existência dele exclui a minha.
Talvez se eu tivesse a oportunidade maravilhosa de ver o animalzinho estaria eu mais feliz com sua provável morte. Mas existe um abismo enorme entre ver e ouvir falar. Talvez se eu tivesse posto meus olhos naquela pelagem cinza, minha relação com o roedor seria diferente. Ver é uma coisa muito mais tátil. Eu poderia sentir as patinhas dele tocando a minha rotina.
Mas como só ouvi falar, ele é praticamente um fantasma, a única presença que eu sinto dele é o medo depositado por sua breve aparição e os inúmeros saquinhos de veneno.