sexta-feira, 30 de novembro de 2007

5 cm/s

Ele era como uma manhã de sexta-feira. Desde o dia em que pegaram o mesmo elevador. Ela nunca quis rejeitar ele, mas foi o que acabou fazendo. Não que ela não tivesse um bom motivo, mas hoje nenhum motivo parece bom o suficiente.
Mas era a vez dela ser rejeitada. Não que o motivo dele não fizesse sentido. Ou não que ela não acreditasse. Ela disse para si mesma que não queria compromisso, jurou que não era um relacionamento e tentou tanto acreditar naquilo. Encheu tanto, tanto a cabeça com as milhões de mentiras que queria desesperadamente acreditar.
Mas a lembrança dele estava ali, na frente dela, esfregando a verdade na sua cara, queria muito mais do que só aquele dia, mas não tinha coragem de assumir. Era a mais covarde das pessoas, porque até para ele negaria.
Talvez de tanto negar pudesse só por um dia acreditar que não era saudade, que realmente não sabia de onde vinha a tristeza cujos dentes podia sentir na sua carne, fingir que não era medo das férias, fingir que não queria, fingir que conseguiu esquecer, fingir que não se importava. Sempre acabava procurando pedaços dele nos lugares mais improváveis, mesmo sabendo que nunca estaria em um lugar desses, que ele nunca viria. Queria esconder que havia esquartejado e espalhado suas lembranças para poder sentir o cheiro da felicidade morta nos cantos que passava. Mas, a segunda-feira eminente não a deixava mentir.
Ele não saberia nada disso. Porque do lado dele, tudo o que ela fazia era sorrir.
Dessa vez, ao menos, ela iria se despedir sorrindo.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Um dia após feriado nacional e a cidade parada. Duas amigas em um bar. Não é um dia muito feliz para nenhuma delas, nem uma boa fase. A vida é decepcionante de vez em quando, e ela passa rápido. Passou os últimos anos voando e elas procurando a felicidade, o que fazer da vida. Porque não queremos uma vidinha básica, ter objetivos que só vão se concretizar - e *se* se contretizarem - daqui há 5 anos. Queremos um objetivo para vivermos bem hoje, um projeto pra alcançar, uma razão para sorrir. Um amor de verdade, ser elas mesmas sem máscaras e ponderações. Por isso se encontram, nesse bar, nessa data, pra ser elas mesmas uma com a outra, a única pessoa do mundo com quem podem ser inteiramente sinceras. Saudades de pessoas que há muito não têm contato, que esse dia faz lembrar de tudo outra vez. Tanta coisa passada, lembrada, guarda, sequer vividas. Tantos anos de distância e tudo se resume a distâncias: para alcançar os objetivos, de amores fracassados, de mesmices, de dúvidas, de boas épocas. Anos passam e nós ainda esperamos por coisas que nunca vieram. Todo mundo precisa de uma razão para viver que se resume a uma vontade de conseguir alguma coisa. E quando o objetivo é distante, ou se perde o interesse, o que acontece então? Busca encerrada?
Garçon, mais um chopp...

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

"Não quero mais"

Ela devia ter uns 9 anos, ele a mesma idade. Estudavam no mesmo colégio, ele veio transferido de Minas, ela sempre tinha morado ali. Ela sentava na primeira
carteira, ele na última. Ela sempre olhava pra ele, ele nunca olhava pra ela.
Amor de criança é sempre assim, meio desencontrado. Deve ser pra dar tempo de amadurecer a idéia ou simplesmente para frustrar desde cedo. Calejar o coração.
Ela era tímida e por mais de um ano não disse nada. Depois de um passeio da escola e ele finalmente olhou pra ela. E ela soube. Masa timidez foi sempre um fantasma entre os dois. Quando no último dia de aula ele quis saber se ela gostava dele, ela simplesmente não conseguiu responder. E recebeu um terrível bilhete. Devidamente rasgado. Foi atrás dele, mas a timidez ainda estava lá e ela não conseguiu dizer metade das palavras que gostaria.
Acho que ela queria dizer o quanto ela gostava dele, o quanto ela queria ficar ao lado dele, que aqueles três meses de férias seriam torturantes, que quando ela o via chegava a tremer, que as palavras fugiam... e por isso mesmo não conseguiu dizer nada.
Mudaram ambos para o mesmo colégio no ano seguinte. Mas que diferença isso fez? Se agora até a turma deles não era a mesma. A distância só aumentava e a timidez sempre foi a aura dela. Em três anos, quantas foram poucas as vezes que conversaram? Mas ela nunca conseguia se interessar por alguem, por causa dele.
Mesmo que ele não se importasse, mesmo que para ele já não fizesse diferença alguma. Os sentimentos dela nunca diminuíram, nem um pouco. Ele era a dor que a acompanhava durante todos os seus dias. Até que um dia resolveu abandonar tudo aquilo, cansou. Saiu do colégio. Tentou se interessar por outras pessoas. Mas ele estava sempre lá.
Até que um dia, ela finalmente amava outro, mas deu uma certa nostalgia. Queria vê-lo mais uma vez, resolveu ligar, afinal o telefone dele jamais esqueceria. Foi bem recebida, viraram amigos, melhores amigos eu diria. E tiveram seis meses de Rurouni Kenshin, Siam Shade, The pillows, Mac aos sábados, e mais um monte de coisas, que ele provavelmente nem se lembra mais.
Ela estava finalmente apaixonada por outro, quando escutou "namora comigo". Estava ali, na frente dela a frase que ela esperou durante 5 anos, o sentimento que ela sempre desejou dele, sempre, mas não mais. E ela recusou. Continuavam amigos... Depois dela já recuperada. Desejar alguem durante tanto tempo, tornou as coisas muito turvas, perdeu de vista quem ele realmente era, de tanto que idealizou. Não souberam lidar com o namoro, muito menos com o término, durou só dois meses. Secou.
Hoje em dia estão felizes, distantes e não trocam sequer uma palavra.