sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"Viena, Viena e tanta tristeza"

"Eu tenho essa saudade. Sempre que venho a Viena, ela acontece."
O destino é mesmo irônico, afinal, depois de todos esses anos, estive em Viena. Finalmente cheguei. Tarde demais pra quem gostaria que estivesse por lá. Ou ainda esteja, mas não mais na minha vida. E essa época está agora tão distante como se estivesse por trás de uma cortina de fumaça. Enquanto caminhava naquelas ruas, lembrava de coisas que não deveria ter lido, de cada risada e lágrima e tanta tristeza e tanta alegria, de volta naquelas ruas onde tudo começou. E fiquei profundamente nostálgica do que um dia eu tive, do quanto eu queria ter de volta e não posso.
Sentei com dois amigos que moram em Viena para tomar um café e uma taça de vinho e a colinária austro-alemã que aprecio demais. Conversamos sobre nossas vidas atualmente e sobre a nostalgia de estar longe de uma terra de onde éramos tão felizes e ficou tão distante. Ao menos meus amigos estarão em Viena por longos anos, o que torna-se mais um motivo para que eu volte. E certamente voltarei.
Há pouco tempo conversei com uma amiga que morava na Europa, falamos sobre a beleza do velho continente, as construções medievais, as casas com telhados em forma de "v" invertido, da beleza da neve no inverno e dos verões onde o sol brilha até dez horas da noite, os trens que esperávamos e viajávamos por horas com alegria, a beleza natural, as ruas por onde saíamos para simplesmente andar. Quando ela esteve lá pela segunda vez, ir embora foi muito mais difícil do que da primeira, porque tudo a deixava feliz, bobamente feliz, o simples fato de estar andando pela rua era bom pra ela. E isso a fez perceber o quanto ela era feliz alí e o quanto queria que isso nunca acabasse, queria ficar lá para sempre. Senti o mesmo.
Marlene Dietrich cantava uma antiga canção que dizia
"Se eu pudesse fazer um pedido,
pediria um pouco de felicidade.
Porque se eu fosse feliz demais,
teria saudades da tristeza."
E sempre volto a pensar em Viena, em todas as lembrancas belas e terríveis, mas em geral guardo muito mais as belas, até porque elas não se separam, sendo que a tristeza e a alegria são inerentes nos meus sentimentos a esta cidade. E assim minha saudade nunca terminará, essa saudade da tristeza de um tempo perdido e de um jamais vivido.
Naturalmente, nada que acontecesse nesse mundo acontece por acaso ou sem sentido. Talvez tudo apenas dure muito, muito tempo. Então minhas viagens a Viena e meus caminhos para o passado não seriam saudades, mas saudades da esperança? Ninguém pode responder.
Em nesta minha viagem a Viena, não fechei a página do livro da memória, nem chegou ao fim da história, apenas parece ser o fim do mundo. Então talvez, minha querida Naty, quando finalmente cruzarmos a linha entre os pólos, neste lugar de todas nossas recordações, então nós, que sempre quisemos saber tantas coisas, finalmente saberemos o que vale a pena saber.
Fragmentos do texto pertencem a JM Simmel, do conto "Viena, Viena e tanta tristeza"

Um comentário:

Unknown disse...

Mas sempre estaremos no pólo errado, e eles não vão estar mais perto. =~