quinta-feira, 1 de novembro de 2007

"Não quero mais"

Ela devia ter uns 9 anos, ele a mesma idade. Estudavam no mesmo colégio, ele veio transferido de Minas, ela sempre tinha morado ali. Ela sentava na primeira
carteira, ele na última. Ela sempre olhava pra ele, ele nunca olhava pra ela.
Amor de criança é sempre assim, meio desencontrado. Deve ser pra dar tempo de amadurecer a idéia ou simplesmente para frustrar desde cedo. Calejar o coração.
Ela era tímida e por mais de um ano não disse nada. Depois de um passeio da escola e ele finalmente olhou pra ela. E ela soube. Masa timidez foi sempre um fantasma entre os dois. Quando no último dia de aula ele quis saber se ela gostava dele, ela simplesmente não conseguiu responder. E recebeu um terrível bilhete. Devidamente rasgado. Foi atrás dele, mas a timidez ainda estava lá e ela não conseguiu dizer metade das palavras que gostaria.
Acho que ela queria dizer o quanto ela gostava dele, o quanto ela queria ficar ao lado dele, que aqueles três meses de férias seriam torturantes, que quando ela o via chegava a tremer, que as palavras fugiam... e por isso mesmo não conseguiu dizer nada.
Mudaram ambos para o mesmo colégio no ano seguinte. Mas que diferença isso fez? Se agora até a turma deles não era a mesma. A distância só aumentava e a timidez sempre foi a aura dela. Em três anos, quantas foram poucas as vezes que conversaram? Mas ela nunca conseguia se interessar por alguem, por causa dele.
Mesmo que ele não se importasse, mesmo que para ele já não fizesse diferença alguma. Os sentimentos dela nunca diminuíram, nem um pouco. Ele era a dor que a acompanhava durante todos os seus dias. Até que um dia resolveu abandonar tudo aquilo, cansou. Saiu do colégio. Tentou se interessar por outras pessoas. Mas ele estava sempre lá.
Até que um dia, ela finalmente amava outro, mas deu uma certa nostalgia. Queria vê-lo mais uma vez, resolveu ligar, afinal o telefone dele jamais esqueceria. Foi bem recebida, viraram amigos, melhores amigos eu diria. E tiveram seis meses de Rurouni Kenshin, Siam Shade, The pillows, Mac aos sábados, e mais um monte de coisas, que ele provavelmente nem se lembra mais.
Ela estava finalmente apaixonada por outro, quando escutou "namora comigo". Estava ali, na frente dela a frase que ela esperou durante 5 anos, o sentimento que ela sempre desejou dele, sempre, mas não mais. E ela recusou. Continuavam amigos... Depois dela já recuperada. Desejar alguem durante tanto tempo, tornou as coisas muito turvas, perdeu de vista quem ele realmente era, de tanto que idealizou. Não souberam lidar com o namoro, muito menos com o término, durou só dois meses. Secou.
Hoje em dia estão felizes, distantes e não trocam sequer uma palavra.

8 comentários:

Anônimo disse...

Triste e belo. Bem como deve ser o amor. Escreve muito bem, tinha que ser irmã minha. Me inscrevi no rss de vocês. ^^

Roberta disse...

Mais um trágico amor de infância e o tempo devastou.
Farei uma pequena observação, ou melhor, 2: Nem lembrava mais de Siam Shade!!!! E Mac aos sábados... tbm jah fizemos isso milhões de vezes... xD
=*

Unknown disse...

Muito boa essa narrativa de um amor possível porém impossibilitado pelas barreiras psicológicas criadas por algumas pessoas chamada de timidez...O fato é que sempre terá alguem para alavancar-te,para impulsionar,para estimular a vida dessas pessoas e fazerem com que essas dêem a volta por cima,não tendo mais limites em sua vida.

Ricardo Goulart disse...

Nenhum homem encontra duas vezes seu ideal, isso é, quando o encontra.
Os tempos contemporâneos e sua complexidiade acabam com a inspiração grega do amor.

Ricardo Goulart disse...

complexidade*

Anônimo disse...

amor platonico! eh triste idealizar e criar ilusoes de quem vc gosta e ter a incerteza se a outra pessoa pensa o mesmo, por isso a timidez, o medo, a insegurança, a falta de coragem!!!

=/

Luis disse...

"Amor de criança é sempre assim, meio desencontrado. Deve ser pra dar tempo de amadurecer a idéia ou simplesmente para frustrar desde cedo. Calejar o coração."

Mas amor de criança ou não, durando o tempo que durar, nunca amadurece o suficiente a ponto de chegar na idade do uso da razão.

Por isso o pintam sempre menino.

E, acho que por isso também, estou sempre calejando meu coração. Às vezes tanto, que espero que vire logo pedra.

Mas só às vezes.

Luis disse...

Ah, e o Mukypho tá bombando! Sete comentários; oito com este(ou nove, se mais alguém comentar enquanto estou escrevendo, o que é bem possível, tanto pelo sucesso do blog quanto pela minha escrita lenta.

E nem sempre grande audiência quer dizer grande qualidade, mas neste caso sim.

Best post so far.

Bjo